Os ex-diretores dos hospitais Universitário e do Câncer, investigados pela Polícia Federal, também planejavam como deveria ser a fiscalização do Conselho Regional de Medicina em Mato Grosso do Sul (CRM/MS) diante das irregularidades, de acordo com a Polícia Federal. As novas escutas telefônicas da operação Sangue Frio foram divulgadas, nesta segunda-feira (13), em reportagem do MSTV 2ª Edição.
Conforme a PF, os investigados também tentaram calar a imprensa, manipular o Ministério Público e enganar a fiscalização da Controladoria-Geral da União (CGU).
Em uma das gravações, um homem ligado ao presidente do CRM liga para o ex-diretor do Hospital Universitário (HU), José Carlos Dorsa, para decidir sobre uma fiscalização ao hospital.
Homem: Em função dessa reportagem, a coisa piorou. Mas já faz um mês mais ou menos, o presidente do conselho (CRM) aqui, tem algumas denúncias. O povo tá pressionando pra fiscalizar o HU.
Dorsa: Sei.
Homem: Aí ele (presidente do CRM) tá segurando pela nossa amizade etc e tal. Falou: “não, eu não vou fazer nada, não. Conversa com ele primeiro... de repente, nesse momento até seja bom pra ele, ou não, e pra vocês do hospital.”
Eu falei, bom vou trocar uma ideia com ele porque ele tá segurando essas denúncias, sabe.
Dorsa: Sei.
Homem: E aí eu falei: bom, vou ligar. Ele falou: “liga pra ele e vê, de repente é interessante pra ele nesse momento de crise aí, de repente alguma coisa justificável pra ele, né!”
Entretanto, o ex-diretor recusa a ajuda alegando que os problemas enfrentados por ele no HU são outros e que uma fiscalização do CRM poderia, inclusive, prejudicar.
Dorsa: Não tem nada assim, essas coisas são só coisas externas, não resolve nada vir. Nada disso resolve, sabe.
Homem: Entendi.
Dorsa: Não muda o cenário pra nada, sabe.
Homem: Não ajudaria em nada?
Dorsa: Não ajuda.
Homem: Pelo contrário, atrapalha.
Dorsa: É.
Homem: Não, beleza, vou falar pra ele (presidente do CRM) se ele puder segurar o máximo que ele puder, beleza....
Dorsa: É, porque agora não vai poder resolver nada disso, né. Mesmo que tenha fiscalização ou qualquer coisa, nada, não vai interferir, né. Agora não vai ter resolutilidade de nada, sabe?
Homem: Entendi.
Após ouvir as gravações, o presidente do CRM em Mato Grosso do Sul, Luis Henrique Mascarenhas, nega que tenha existido qualquer interferência nas investigações da entidade. “Não houve nenhum tipo de impedimento, cerceamento, de apuração de qualquer responsabilidade”, afirmou.
Essa conversa também é citada em um dos relatórios da operação Sangue Frio. Para os analistas da Polícia Federal, “todos conspiram contra aquilo que deveriam proteger: a saúde pública.”
Em outra ligação, um homem de nome Aldo fala com Dorsa que, em função da reportagem, a coisa piorou, que já faz mais ou menos um mês que o presidente do CRM tem algumas denúncias, que as pessoas estão pressionando para fiscalizar o HU e que o presidente está segurando em função da amizade deles. Ou seja, todos conspiram contra aquilo que deveriam proteger: “a saúde pública”.
Outra escuta telefônica mostra o ex-diretor do HU e o ex-diretor do Hospital do Câncer, Adalberto Siufi, falando sobre a atuação do CRM.
Siufi: Eu falei com o André Borges, que é meu advogado até particular.
Dorsa: Sim.
Adalberto: Falou: “Adalberto, não faz nada que o CRM vai fazer uma vistoria no HU esta semana e vão dar um parecer”, entendeu?
Dorsa: O CRM tá fraco. O Luis Henrique, ele foi muito mal na entrevista que ele deu. Ele é... Demonstrou fragilidade, né. Não tem competência para ter o cargo.
Adalberto: E, hoje, ele questionou o convênio nosso com a universidade (UFMS), né.
Dorsa: Eu acho que o Luis Henrique só vai causar problemas... Não tem uma visão boa das coisas não, sabe.
Siufi: Sei.
O presidente do CRM, também é sócio do ex-diretor do Hospital do Câncer. A certidão da Junta Comercial de Mato Grosso do Sul comprova que Luis Henrique Mascarenhas Moreira é um dos nove donos da Oncogrupo - Serviços de Oncologia LTDA: a Neoclin.
Um dos relatórios da investigação da Polícia Federal destaca que, com exceção de três médicos, os demais sócios de Adalberto Siufi, incluindo Mascarenhas, tem algum tipo de vínculo profissional com o Hospital do Câncer.
Na última semana, diante das denúncias da operação Sangue Frio mostradas pela TV Morena, o Conselho Regional de Medicina informou que abriu quatro sindicâncias: uma para apurar a conduta dos médicos investigados pela PF, outras duas sobre as irregularidades apontadas nos hospitais e a última, uma sindicância interna sobre o funcionário do CRM, o advogado André Borges, que teria repassado informações privilegiadas a um dos investigados.
Mascarenhas enfatiza que ocupa um cargo administrativo e que, por isso, não interfere nos trabalhos e que só terá acesso ao resultado final das sindicâncias.
Em nota, o Conselho Federal de Medicina informou que essa relação comercial de um dos investigados com o presidente do CRM, por si só, não comprova participação em irregularidades. Entretanto, para assegurar a percepção de transparência e idoneidade das sindicâncias, o conselho recomenda que Mascarenhas não participe nem opine sobre elas.
André Borges não quis se manifestar sobre a sindicância do CRM.
Retirado do link: http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2013/05/ex-diretores-do-hu-e-hc-planejavam-fiscalizacao-do-crm-em-ms-diz-pf.html