Assistimos a uma perda da capacidade de execução de serviços e da resolutividade do Hospital Regional Rosa Pedrossian. A lógica desde a sua inauguração seria a ampliação da oferta de serviços em todos os níveis de complexidade. Porém, a unidade dia a dia sucumbe à má gestão, com a desestruturação de serviços essenciais para a população do estado. Comentamos abaixo, algumas constatações sobre o assunto em tela.
Catarata
O HRMS, que era referência em cirurgia de catarata, hoje não faz mais o procedimento, ficando boa parte dos necessitados, por perda de visão por catarata, do nosso estado, desassistidos. O serviço foi desmontado para ser transferida a referência para um pequeno hospital de campo grande, conhecido por seu trabalho no tratamento hanseníase. Mas esta pequena estrutura não atende a grande demanda que era atendida no HRMS e que o Estado necessita.
Pronto Atendimento
Este serviço médico foi desativado para ser reformado e se tornar posteriormente “a maior emergência do centro oeste”. Mas na placa em destaque, nos finais da obra, já está rotulado o novo o serviço como pronto atendimento médico (PAM) e não como emergência.
Em um serviço de emergência, presume-se de acordo com o grau de complexidade da mesma, uma equipe de especialistas em plantão 24 horas por dia, como ortopedistas, cardiologistas, clínicos, pediatras, ginecologistas-obstetras, oftalmologistas, neurocirurgiões, otorrinolaringologistas...etc e não apenas clínicos, pediatras e cirurgiões gerais.
Infectologia
Na atual gestão do governo do estado, este setor foi desativado por falta de profissionais e de conhecimento em políticas de saúde, em um contexto epidemiológico crítico, de predominância de doenças infectocontagiosas, como dengue, leishmaniose, tuberculose, hepatites virais, reduziu-se a oferta de leitos especializados em doenças infectocontagiosas na cidade de Campo Grande em pelo menos 50%, ficando o serviço do Hospital Universitário sobrecarregado.
Cirurgia bariátrica
Esta modalidade foi credenciada como um dos serviços de alta complexidade para o estado e foi desativada por falta de profissionais, que também não foram substituídos, por incapacidade gerencial e administrativa do governo e dos gestores do HRMS. Recentemente, pudemos ver pela imprensa um material abundante sobre a morte de um jovem obeso, que aguardou por seis anos o chamado para uma cirurgia bariátrica, que não ocorreu, tirando a chance de vida do paciente.
Civitox
O Centro de Vigilância Toxicológica foi desativado na assistência toxicológica, embora conte com dois profissionais médicos concursados para atividades assistenciais na área de toxicologia e como reflexo, também vimos farta documentação da imprensa, sobre outros dois óbitos, de uma jovem menina picada por escorpião e outro trabalhador picado por cobra. O Civitox atendia casos de intoxicações agudas e crônicas e chamava a demanda para o HRMS como centro de referência em Toxicologia para Campo Grande e para o Estado. Atendia casos de intoxicações acidentais, ocupacionais, tentativas de suicídio com uso de substâncias tóxicas. Hoje está funcionando apenas a Informação Toxicológica. A assistência toxicológica está descentralizada e não existe mais o campo de treinamento/capacitação de estudantes e profissionais como antes. Em um Estado com elevada incidência de exposição e doenças provocadas por agrotóxicos não existe mais o centro de referência para diagnóstico e tratamento das doenças emanadas da exposição aos agrotóxicos.
Centro de Terapia Intensiva
O lendário Centro de Terapia Intensiva adulta com 40 leitos, não consegue ser ativado há anos (tal qual a emergência). Dos 40 leitos divulgados na televisão, apenas 20 leitos estão em funcionamento.
O Hospital divulga no cadastro nacional de estabelecimentos de saúde (CNES), que oferece 350 leitos, mas na prática, desativou um leito de cada enfermaria alegando “exigências” da Vigilância Sanitária, órgão do próprio estado que construiu e aprovou a planta do Nosocômio.
Neste sentido, o Estado também não apresentou alternativa para utilização dos leitos em outro espaço. Outros leitos dos pacientes também foram desativados, por conta de espaços administrativos, educacionais e de repouso. Alguns pacientes permanecem isolados em quartos e outros, encontram-se entubados, sob uso de respiradores, fora do centro de terapia intensiva, o que não é adequado. Portanto, o que está contratado com o município e com a união, não está sendo cumprido.
Radioterapia
A radioterapia divulgada, aprovada pelo ministério da saúde, conforme assistimos na combinação em reportagem da televisão, de fato, não apresenta qualquer obra edificante do serviço, o que garantiria ao HRMS, integralidade na atenção oncológica, da prevenção ao diagnóstico, tratamento clínico, a clínica de apoio, de dor, radioterapia e reabilitação.
Ortopedia
Este setor realizou a contratação de profissionais, a compra de equipamentos cirúrgicos, porém não está ativo ate o presente momento. O HRMS realizou concurso para contratar e estruturar o serviço de Ortopedia. Logo após fez um "acordo" que cedia os profissionais de ortopedia para o HU, que já tinha o serviço estruturado no plantão noturno, no ambulatório e na cirurgia ortopédica.
Com isto o HRMS deixou de oferecer o serviço de ortopedia em sua plenitude, em emergência 24 horas por dia, ambulatório, internações e cirurgias eletivas, conforme era o projeto inicial.
A população perdeu mais um local de atendimento, e o HRMS deixou de ter auto-suficiência na referências de seus próprios pacientes que necessitavam do atendimento em emergência e todos outros níveis de complexidade.
No projeto de "maior emergência do centro-oeste" a retomada do serviço de ortopedia no HRMS é imprescindível, uma vez que a predominância dos casos de urgência e emergência em Campo Grande é o Trauma. Não poderia a maior unidade pública de saúde do município e do estado se esquivar e assumir esta responsabilidade.
Almoxarifado
O HRMS tem exigência da edificação do Almoxarifado desde a auditoria realizada pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DENASUS) em 2005. Como solução a Secretaria Estadual de Saúde e a Presidência da Fundação de Serviços de Saúde optaram por alugar um espaço externo ao hospital, cujos recursos dispendidos até o presente momento já teriam sido suficientes para construir o almoxarifado próprio, anexo ao HRMS, no terreno do hospital.
Arquivo Médico
A Secretaria Estadual de Saúde e a Presidência da Fundação de Serviços de Saúde transferiram o Arquivo Médico dos pacientes para fora das dependências do hospital. O Conselho Federal de Medicina normatiza que o Arquivo de pacientes só podem ser transferidos, para fora da instituição, em caso de desuso, após trinta anos ou por óbito. Pacientes do HRMS que necessitam de atendimento emergencial, ao chegar à unidade, não possuem de imediato o prontuário médico disponível, dificultando o conhecimento do caso dos pacientes pelos médicos em casos de emergência.
Quadro de pessoal
A defasagem no quadro de funcionários chega ao número de 300 profissionais. Demissões, pedidos de desligamentos, transferências, a não sem reposição anual do efetivo necessário para possibilitar o pleno funcionamento dos serviços, como por exemplo, a infectologia. Vejamos, com a inauguração da “maior emergência do centro-oeste” segundo foi alardeado, até o presente momento não observamos a contratação de enfermeiros, técnicos de enfermagem e os especialistas em quantidade suficiente, conforme exige a portaria do Ministério da Saúde, que normatiza o funcionamento dos serviços de emergência. Quando ocorrerá o concurso para reposição dos trabalhadores que já saíram do HRMS e para assumir os novos serviços como emergência e radioterapia?
Falta estrutura para formação continuada
O auditório do HRMS está há anos desativado. Como dizem os construtores, o prédio está “no osso”, sem a finalização e acabamento com o palco e as poltronas, embora tenha sido todo pago a construtora Cobel. Assim, perde-se um espaço importante para a formação de profissionais, de especialistas e para o desenvolvimento da educação continuada neste espaço.
Embora o HRMS tenha se comprometido a ser unidade de referência para a macro-região de Campo Grande, portanto percebemos que este não evoluiu na oferta de serviços em todas as linhas de cuidados, em se tratando de centro de referência em saúde.
As unidades de saúde hospitalares possuem identidade e finalidade específica, não podendo uma se abster de ofertar os serviços porque outra unidade oferece, caindo-se no erro da sobrecarga e concentração de serviço, condenada pelos próprios, gestores do estado e do município.
Privatização/Terceirização
O caso do HRMS importa observar que houve um desmonte progressivo, tanto do projeto de se tornar um Centro de Alta Complexidade em Saúde de para o estado, quanto na oferta de serviços próprios, com setores inteiros que eram de propriedade do próprio estado sendo terceirizados. Conforme confirmou o ex-diretor do hospital, em oitiva da CPI da Saúde da Assembleia Legislativa. A terceirização na saúde impõe o lucro como principal interesse e desveste a atuação de cada profissional como estado de arte e foco principal das instituições. Lucro não combina com SUS 100% público de qualidade, extensivo a todos os brasileiros.
Campo Grande, MS, 11 de Setembro de 2013.
Sindicato dos Trabalhadores da Seguridade Social de Mato Grosso do Sul.