01/02/2013
Secretário de Relações Internacionais da CUT afirma que o “retumbante fracasso” do FST 2013 em Porto Alegre foi resultado do “grave sectarismo” que acometeu a organização local.
Escrito por: João Antonio Felício
O Fracasso de um Fórum Sequestrado
Volto ao assunto porque os organizadores do fracassado Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre no final de janeiro deste ano, continuam atacando as entidades populares que não participaram deste evento por discordar do processo.
As fotos de abertura e da plenária de encerramento comprovam esta afirmação. Por favor, não culpem o desastre de Santa Maria pelo esvaziamento.
O retumbante fracasso do Fórum sem Social estampou o grave sectarismo que acometeu a (des) organização local, traduzida em exclusão e partidarização.
Com práticas tão flagrantemente contrárias ao espírito do Fórum, que sempre primou pela amplitude para fortalecer a luta por um “outro mundo possível” – em contraposição à globalização neoliberal e à ditadura do sistema financeiro – os organizadores levaram o evento para o gueto. E acabaram colhendo o que plantaram.
Infelizmente, pelos constantes e sucessivos alertas feitos pela nossa Central ao lado de outras entidades populares aos “organizadores”, esta foi uma opção desastrada, mas consciente. Assim, os recém-convertidos ao FSM, que chegaram agora, não se contentaram em sentar na janelinha. Passaram a excluir os que auxiliaram na fundação do Fórum e que sempre tiveram uma postura de acolher os novos que estavam chegando, independente das suas ideologias, e desta maneira contribuindo para dar uma projeção planetária ao evento.
Eu era presidente da CUT quando o Fórum foi fundado em janeiro de 2001 e me lembro bem do espírito solidário, includente, sem sectarismo e partidarização existente naquele período. A nossa luta era contra a direita conservadora e preconceituosa que boicotava o evento que, apesar disso, foi multitudinário. Naquele período havia entusiasmo de todas as organizações e uma vontade enorme e real de mudar o mundo.
A inexpressiva passeata de abertura e o esvaziamento dos debates do FST 2013 se deveram à ausência de representação dos movimentos sociais nacionais e internacionais que reagiram ao golpe promovido pelos que se apropriaram da “marca” Fórum para promoverem negócios. Obviamente falam por si, são uma comprovação cabal do descaminho adotado.
Ao optar pelo atropelo à histórica autonomia do evento, substituída vexatoriamente pelo vínculo político-financeiro à administração municipal, os que se acreditaram donos do FSM, pouco afeitos ao trabalho coletivo, alijaram a participação de entidades historicamente comprometidas com o evento para a segunda divisão.
Tal boicote, vale lembrar, já havia sido vergonhosamente praticado por estes mesmos senhores no Fórum Social Mundial Palestina Livre, sediado na capital gaúcha no final de 2012, quando desmobilizaram e sabotaram o quanto puderam, inclusive retirando apoios anteriormente acordados, como foi o caso da Prefeitura de Porto Alegre. Ficaram observando a luta pelo Estado Palestino de binóculo, desde o morro de Santana, ponto mais alto da cidade.
Relembramos que a CUT participa do evento desde a sua fundação em 2001, não chegamos agora. Sempre o consideramos um espaço de atuação extremamente importante para todos os movimentos sociais e organizações que buscam construir um mundo mais justo e democrático. E vamos continuar valorizando este espaço unitário de todos os movimentos sociais e de abrangência mundial.
No entanto, como já expusemos anteriormente, consideramos que o Fórum precisa avançar na definição de ações consensuadas entre todos estes movimentos. As mudanças que queremos para o mundo só ocorrerão através de ações que puderem ser assumidas por todos.
Reiteramos que o Fórum precisa deixar de fazer apenas reflexão e partir para a definição de ações para nos contrapormos à lógica excludente do sistema financeiro, num mundo com milhões de desempregados e famintos, onde o FMI e o Banco Mundial impõem à Europa suas receitas recessivas e as grandes potências determinam a militarização como lógica das relações políticas entre os países.
O mundo precisa do Fórum Social. Queremos recuperar o papel coletivo do comitê local, impedir o controle do poder público e de suas “organizações amigas”. O Fórum tem que ser de todos e todas e que os temas a serem abordados sejam amplamente debatidos.
Fonte: http://www.cut.org.br/destaques/22918/joao-felicio-expoe-as-razoes-do-fracasso-de-um-forum-sequestrado