publicado em 6 de Julho de 2013 às 12:14 - Notícias

Operação Sangue Frio: avalanche derruba ‘intocáveis’ da saúde de MS

Dobashi, Perches, Dorsa e Siufi. Foto: Midiamax.

06/07/2013 08:30

Vinícius Squinelo

Beatriz Dobashi, Ronaldo Perches, José Carlos Dorsa e Adalberto Siufi. Até poucos meses atrás, os quatro faziam parte do “núcleo duro” da saúde regional, comandando a mãos de ferro hospitais e repasses de verba do SUS (Sistema Único de Saúde). Mas tudo mudou em março deste ano.

Até esta terça-feira passada (2), Dobashi estava à frente da Secretaria Estadual de Saúde, tendo como braço direito Perches, diretor do Hospital Regional e presidente da presidente da Fundação de Saúde de Mato Grosso do Sul. Antes do “furacão” da saúde no estado, Dorsa encabeçava o Hospital Universitário, e Siufi estava à frente do Hospital do Câncer e da Neorad, empresa particular que praticamente monopoliza o tratamento do câncer através de radioterapia em Mato Grosso do Sul.

Maior hospital do estado, a Santa Casa era comandada por uma junta interventora, com grande participação do governo do estado, e forte influência de Dobashi.

Junto, o quarteto controlava os grandes hospitais do estado e orientava assinatura de contratos, além de dar a direção para o repasse de verbas do SUS. Com eles no poder, o estado ficou refém da Neorad para a realização de radioterapia.

Em atuação conjunta, o grupo também desmontou o planejamento do Ministério da Saúde, que tentou enviar cinco aceleradores lineares, responsável pelo tratamento, ao estado. Cada máquina é avaliada em R$ 7 milhões.

Intocáveis

Desencadeada pela Polícia Federal, a Operação Sangue Frio fez o que poucos esperavam: derrubou os intocáveis. O primeiro a cair foi Adalberto Siufi. O médico, então diretor presidente do Hospital do Câncer, que leva o nome do seu pai, Alfredo Abrão, se viu envolvido em graves acusações de desvio de verbas e contratos irregulares.

Segundo a PF, Siufi fechou um contrato entre o HC e a Neorad, onde os pacientes eram enviados à clínica particular, de propriedade do próprio médico, e o pagamento era feito com base na tabela do SUS, acrescido de 70%, fato proibido por lei.

Adalberto foi afastado do HC, junto com a filha, Betina Siufi, também envolvida em gravações da Polícia Federal. Além de esquemas financeiros, o grupo também daria doses menores que o recomendável à pacientes, como forma de “economizar”.

Feudo

Depois de Adalberto Siufi, foi a vez da queda de José Carlos Dorsa. O até então “todo-poderoso” do HU foi afastado no dia 20 de março, um dia depois da Operação Sangue Frio. Além dele, outras três pessoas foram destituídas de seus cargos.

No HU, as denúncias são muitas, como direcionamento de licitação, sobrepreço, superfaturamento, duplicidade de pagamentos e terceirização indevida.

Também no HU, a radioterapia fez, supostamente, parte do desmanche da saúde estadual. O setor parou de atender em 2008. De lá pra cá os atendimentos foram todos concentrados pela Câmara Inter-Hospitalar. Segundo a Secretaria de Saúde, a Câmara Técnica é composta por diretores clínicos e diretores gerais dos três hospitais – Hospital Universitário, Santa Casa e Hospital Regional – e pelos gestores do município de Campo Grande e do Estado.

O ortopedista Claudio Wanderley Luz Saab foi o escolhido para substituir Dorsa, mesmo tendo uma nota 45 na última avaliação de desempenho da UFMS, em uma escala que vai até 100. Dorsa, porém, ainda comandaria o HU “por baixo dos panos”, conforme várias denúncias recebidas pelo Midiamax.

Os cabeças

Pouco menos de quatro meses depois da Operação Sangue Frio, foi a vez de Beatriz Dobashi e Ronaldo Perches serem envolvidos de vez nos escândalos da saúde do estado. Escutas da PF revelaram articulações dos dois, juntamente com Dorsa e Siufi, para negar a vinda de aceleradores lineares.

As gravações também desmentiram Dobashi, até ontem a mandatária da saúde regional, que por diversas vezes afirmou nunca ter interferido na questão.

Em 2002, Beatriz Dobashi foi demitida da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) por lesão aos cofres públicos e improbidade administrativa. A secretária pagava valores acima de R$ 30 mil por serviços de consultoria para a SES, com contratação sem concurso e publicação feita em Diário Oficial.

Onze anos depois, Dobashi se vê em situação novamente delicada. Mesmo que tenha sido exonerada “a pedido”, a ex-secretária de saúde deve ser convocada pelas CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa para tentar explicar as novas revelações.

Diferente da chefe, o ex-diretor do HR e da Fundação Estadual de Saúde, Ronaldo Perches, foi dispensado do serviço pelo governador André Puccinelli (PMDB). Além das articulações envolvendo a oncologia regional, Perches foi denunciado por ser funcionário fantasma, trabalhando 10h semanais, fato negado pelo ex-diretor.

http://www.midiamax.com.br/noticias/859040-operacao+sangue+frio+avalanche+derruba+intocaveis+saude+ms.html  

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