Servidores do Hospital Regional de Campo Grande denunciam que a entidade apesar de estar preparada, não é referência para receber pacientes portadores do vírus da gripe A. Eles pediram para não serem identificados por medo de represália.
No comeoço deste mês, um paciente com suspeita da síndrome foi transferido para o HR, que chegou a interditar por cerca de 24h a área vermelha para pacientes graves e todos os funcionários e pacientes tiveram que ser medicados com Tamiflu. O episódio abriu, inclusive, uma crise com o Samu, que emitiu comunicado de que não fará mais o transporte de pacientes sem vaga garantida, nem em vaga zero.
De acordo com um médico que não quis se identificar, após o incidente, outros casos de suspeita de gripe A forma registrados na sala vermelha do hospital.
“O hospital está preparado para atender, mas não existe há alguns anos o Núcleo de Doenças Infecto Parasitárias – DIP. Então, se houver outro paciente no isolamento, por exemplo, da área vermelha, que tem quatro leitos, não temos onde por esse paciente com gripe A, porque pode infectar os demais. O certo seria encaminhá-lo para o HU que é referência para tratamento de infectologia, conforme determinação da Câmara Técnica Inter-hospitalar”, afirmou um funcionário que não quis se identificar.
Outro funcionário explica que para atender pacientes com gripe A, é preciso ter um isolamento que por enquanto não existe. “Para atender esse tipo de caso é preciso adequar uma sala, com saída de ar externa, não pode sair para as enfermarias, e outros procedimentos bem mais complexos do que existem nas salas do Regional. Em caso de confirmação todos, entre pacientes e funcionários, correm risco de ser contaminados”, afirmou.
“Há um protocolo de atendimento e os casos confirmados são direcionados para um hospital específico que é preparado e credenciado pelo Ministério da Saúde. No Regional não há essa estrutura e se eles disserem que tem, vão ter que mostrar onde está”, reclamou uma servidora.
“O sétimo andar, que é a clinica médica, era para estar preparado e ter uma sala só para esses casos, mas até hoje não está”, frisou outro servidor.
A reportagem entrou em contato com o presidente do Sintess-MS - sindicato que representa os servidores da saúde – Alexandre Júnior Costa, que classificou a situação como irresponsabilidade das autoridades.
“O HR não está preparado para atender esses casos e a gente não vê o Ministério Público de manifestar. Quem está levando a pior são os trabalhadores e a população. Na verdade não é nem o Regional que não está preparado, é a Capital. Pelo que a gente entende, a prefeitura lavou as mãos, não tem hospital municipal, ocupa as vagas dos outros hospitais, a regulação não funciona e o interior, como fica nessa história? Então, na nossa avaliação, levar paciente com H1N1 para o Regional é uma irresponsabilidade das autoridades de saúde em geral”, afirmou.
Outro lado
Procurada, a Secretaria de Saúde Estadual informou que todos os hospitais da Capital, que são Santa Casa, Regional e Universitário podem receber esses pacientes. Sobre o hospital referenciado não houve resposta até o fechamento desta edição.
No Ministério da Saúde, a informação é que ‘todos os serviços de saúde do SUS (centros, postos e unidade básica de saúde, unidades de pronto atendimento 24 horas (Upas) e hospitais) estão preparados para atender casos leves e graves por influenza e devem realizar atendimento de casos, conforme o protocolo de manejo clínico estabelecido pelo Ministério da Saúde’.
Relatório
A reportagem encontrou um relatório de 2011 da Coordenadoria Geral de Planejamento e Suporte técnico que aponta que naquela data o DIP do HU já vinha enfrentado problemas, mesmo sendo o único entre os três hospitais a possuir qualificação nível 3, o mais elevado da escala das qualificações.
Trecho do relatório:
“Enfermeiros e uma médica do Núcleo de Doenças Infecto Parasitárias – DIP
reclamaram da superlotação do setor, visto que há apenas 09 leitos de enfermaria e
todos estão ocupados. O setor consegue atender apenas 50% da demanda. Essa
situação tornou-se crítica após o fechamento da DIP do Hospital Regional”
Mortes
Até o momento já são registradas seis mortes por gripe A em Mato Grosso do Sul, sendo três em Corumbá, uma em Costa Rica e duas em Campo Grande. Como início do inverno, a doença tende a se agravar.
Fonte: Diana Gaúna
Link: http://www.dopovonline.com.br/ver_not?id=25970