publicado em 29 de Novembro de 2011 às 18:25 - Notícias

Vá com Deus Egídio, mas não corra!

Militantes dão último Adeus a Egidio Brunetto

Com esta expressão de mulher simples, uma trabalhadora rural,  do povo, despediu-se  do dirigente nacional do MST, Egídio Brunetto, na saída do funeral na sede do MST, em Mato Grosso do Sul, na Jardim Bandeirantes, nesta terça-feira (29.11).

Egídio Brunetto, admirado pela esquerda sul-mato-grossense pela sua coerência, capacidade intelectual e argumentativa, capaz de convencer até mesmo os intelectuais mais erudito, usando uma linguagem compreensiva, simples, entendível, pelo cidadão  mais simples que marcham fileiras nos assentamentos e acampamentos rurais de Mato Grosso do Sul. Ás vezes tinha a impressão que incorporava a alma de Lula.

Dirigente de relações internacionais do MST, Egidio Brunetto tinha pressa, sim! Acabou sendo vítima da própria ansiedade de demover do nosso Estado milhões de hectares de terras improdutivas, a serviço da especulação imobiliária rural ou castigada pelas intermináveis pastagens de brachiária surradas pelo solo cada vez mais pobre do cerrado.

Egidio enfrentou a perseguição, as ameaças e armações para que fosse parar nas grades das delegacias ou nos presídios, sob a acusação de agitador. Mesmo sua postura franzina, a voz leve, não eram suficientes para deter a ira daqueles que fazem da terra uma fonte constante de lucro, margeada por milhares de famílias das cidades periféricas do Estado, sem nenhuma perspectiva emprego, trabalho e acesso a políticas públicas decentes.

Na última palestra proferida por Egídio, da qual presenciei, no Encontro do Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social de Mato Grosso do Sul, em março deste ano, Egídio fez uma análise de conjuntura macroeconômica e suas implicações no agronegócio e na concentração de renda que deixaria até mesmo os produtores rurais, do mais conservador, de orelha em pé.

Alertou para os riscos da concentração de todo o processo da cadeia industrial grãos nas mãos de apenas quatro multinacionais, criticando seus resultados no controle oligopolizado de preços pagos ao produtor, somados aos baixos salários pagos aos trabalhadores rurais.

Alertou para os riscos do uso intensivo de agrotóxico nos alimentos e suas implicações no crescimento de  doenças degenerativa como o câncer e o mal Alzheimer, sem falar na poluição dos rios e contaminação dos lençóis freáticos.

Líder do MST, Egídio tinha uma alma sem-terra.  Mesmo conhecendo como poucos as  propriedades e o ciclo da mãe terra não teve tempo suficiente para afagá-la, pois a luta incessante contra o latifúndio, contra o judiciário legalista e conversador, ou diante inoperância do INCRA, preso na sua própria  burocracia ou corrupção, não os deram tréguas  para curtir a vida no compasso de um trabalhador rural.

Homem duro, sem perder a ternura, Egídio Brunetto tinha dimensão da importância do diálogo, da negociação política, do momento de avançar e retroceder, mas nunca abriu mão dos princípios e da conduta ética no gerenciamento de conflitos ou nas relações institucionais para promoção da agricultura familiar, da coletivização da produção, do fortalecimento do cooperativismo, da agricultura sustentável, de crédito barato  e da preservação ambiental.

Egidio Brunetto sabia como ninguém explorar as contradições da esquerda e do PT uma perspectiva socialista. Tinha autonomia, capacidade crítica, cobrava coerência e compromissos dos governos na defesa e implantação de plataformas do campo popular e democrático.

Defendia com propriedade a causa dos índios, confinados nas pequenas aldeias e das comunidades negras isoladas, no atraso e sem assistência técnica.

Cobrava como ninguém um projeto de formulação política que fizesse frente ao individualismo  e a alienação difundida pelos meios de comunicação. Acreditava em outras possibilidades para juventude brasileira e mundial. Defendia um mundo do trabalho de autogestão e do respeito à cidadania e à diversidade cultural. 

Egídio suas causas serão sempre as nossas, porque são justas e aprendemos a amá-las  e por ela lutar, sempre.

Pena que no atropelo da militância, na lógica insana do mercado de trabalho, não tivemos tanto tempo para degustar as músicas de Pablo Milanês, Dante Ledesma ou encanto das mensagens de Mercedes Sosa, a quem tenta elogiava e nos ensinou a gostar.

A distância das  grades do Aeroporto Antonio João, de onde o pequeno avião partiu para Santa Catarina com seu corpo, o pequenos cortejo com as bandeiras sindicatos de lutas do nosso Estado, foram inexpressivos diante da grandeza de sonhos e utopias de uma sociedade que semeou nas mentes de tantas pessoas de bem.

Você partiu, deixou uma lacuna,  mas não deixou “que a morte o encontrasse sem ter feito o queria”.

Sentiremos saudades.

Campo Grande, 29 de novembro de 2011.

 Gerson Canhete Jara – Jornalista, dirigente municipal do PT e simpatizante do MST.

 

 

Assinam         

 

Sintss-MS – Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social

 

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